Professor, escritor, médium, orador e filantropo. Nascido em Feira de Santana, Divaldo Franco foi reconhecido como um dos principais líderes religiosos do Brasil e uma figura emblemática do espiritismo. O médium faleceu na terça-feira, 13 de maio, em Salvador, provocando manifestações por parte de famosos, políticos e pessoas que, de alguma forma, foram impactadas por seu ofício.
Ao longo de oito décadas dedicadas à divulgação do espiritismo, Divaldo Franco transcendeu fronteiras, tornando-se uma referência mundial da doutrina. Prova disso é o sucesso de sua obra literária, com mais de 260 livros psicografados com cerca de 10 milhões de exemplares vendidos. Algumas de suas obras foram traduzidas para outros 17 idiomas, totalizando mais de 50 mil páginas publicadas e 20 milhões de cópias comercializadas globalmente. Além disso, sua atuação como conferencista e missionário do espiritismo no Brasil e no exterior lhe rendeu a alcunha de “Paulo de Tarso do Espiritismo”.
Divaldo relatava que, desde a infância, tinha contato com os espíritos. Contava que as visões o perturbavam, levando-o ao isolamento por parte das outras crianças e a repressão paterna. Disse que chegou a ser considerado louco por conhecidos, mas aos 17 anos, passou a entender que tudo aquilo era um dom. Foi então que sua mãe, Ana Alves Franco, levou-o para Salvador, onde Divaldo iniciou os estudos sobre a doutrina espírita, tendo, segundo ele, o apoio de sua mentora espiritual, Joanna de Ângelis, a quem atribuía a autoria de grande parte de sua produção psicográfica.
Por meio das obras de Joanna de Ângelis, Divaldo pôde alcançar o reconhecimento não apenas entre os religiosos e espiritualistas, mas também em outras linhas de conhecimento, como a psicologia e a parapsicologia. Isso se deu principalmente em função dos livros publicados na Série Psicológica, onde tratou dos malefícios das fugas da realidade e enfatizou a importância do autoconhecimento e auto-enfrentamento.
Sua atuação como orador começou em 1947, quando estreou suas palestras ao redor do mundo promovendo a doutrina espírita. Foram mais de 60 países percorridos, onde o médium tinha a capacidade de atrair multidões com seu discurso acerca das questões humanas e espirituais, pautadas no pacifismo, na convergência entre o espiritismo e a ciência, e pelos incentivos constantes na busca pelo autoconhecimento.
A reconhecida Mansão do Caminho, obra social do Centro Espírita Caminho da Redenção, foi uma das entidades pioneiras no assistencialismo social e no parto humanizado em Salvador. Localizada no bairro Pau da Lima, na periferia da cidade, foi fundada em 1952 por Divaldo. A entidade, construída numa área de 78 mil metros quadrados, acolhe e educa, atualmente, mais de 5 mil pessoas que procuram ajuda material, educacional e espiritual. Todo o trabalho é mantido com a venda dos livros mediúnicos e das gravações de palestras, seminários, entrevistas e mensagens do próprio Divaldo.
Em fevereiro de 2018, durante um evento espírita em Goiás, Divaldo causou polêmica ao responder a uma pergunta sobre identidade de gênero. Em sua resposta identificou-se contrário à ideologia de gênero, que chamou de “alucinação social criada pelo marxismo cultural para escravizar a sociedade”. A resposta foi rechaçada por parte dos praticantes do espiritismo devido ao seu conteúdo caracterizado por seus opositores como “homofóbico” e “conservador”.
Em 2023, Divaldo causou controvérsia ao sair em defesa dos presos pelos ataques a Brasília em 8 de janeiro, o que lhe rendeu críticas de outros líderes espíritas. Divaldo contestou que os presos fossem terroristas, porque “ninguém estava com revólver, com faca, nem canivete, nem gilete, nem cortador de unha”.
O religioso foi homenageado com diversas honrarias ao longo de sua vida, entre elas:
- Doutor Honoris Causa em Humanidades pela Universidade de Montreal, Canadá;
- Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia (UFBA);
- Doutor em Parapsicologia pela ITI – Universidade de Illinois, Estados Unidos;
- Ordem do Mérito Militar — admitido como Cavaleiro em 1997 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, e promovido a Comendador em 2020, pelo general Fernando Azevedo e Silva;
- Diploma de Ordem do Mérito Militar;
- Comenda da Paz Chico Xavier, pelo Governo de Minas Gerais;
- Mais de 80 títulos de cidadania honorária conferidos por Estados e Municípios do Brasil (16 Capitais);
- 590 homenagens de entidades da sociedade civil organizada (148 de 64 cidades do Exterior, de 20 países, e 442 do Brasil, de 139 cidades);
- Título de “Embaixador da Paz no Mundo” pela “Embassade Universalle Pour la Paix” em Genebra, na Suíça, no dia 30 de dezembro de 2005;
- Doutor Honoris Causa em Humanidades pela Universidade Santa Cecília (UniSanta – Santos/SP).
O sepultamento de Divaldo será às 10h de quinta-feira (15), no Cemitério Bosque da Paz, em Salvador.
Foto: Reprodução/ND.