Salvador vive, até o próximo domingo (27), um dos momentos mais potentes de sua cena cultural: o Festival Julho das Pretinhas, único evento da cidade dedicado exclusivamente às infâncias negras. Em sua 6ª edição, o festival ocupa diversos espaços da capital com uma programação gratuita que celebra a identidade negra desde a infância, por meio da arte, da educação e do afeto.
Idealizado pela atriz e escritora Cássia Valle, por meio do Instituto Calu Brincante, o Julho das Pretinhas oferece oficinas, rodas de conversa, apresentações artísticas, sessões de cinema, contações de histórias e exposições em locais como o Museu Afro-Brasileiro da UFBA, Espaço 360º, Teatro Gregório de Mattos e a Escola Municipal Madre Judite.
“Chegar à 6ª edição do Julho das Pretinhas é sentir que a semente virou floresta”, celebra Cássia. “Vejo crianças pretas se reconhecendo como potência. É mais que um festival – é um quilombo de afetos, onde brincar é resistir, contar histórias é reescrever o mundo, e existir é um ato político de amor.”
A abertura do festival aconteceu na quarta-feira (23), com a exposição Pretinhas Brincantes, contação de histórias e visita guiada no Museu Afro-Brasileiro. A programação segue até domingo com atividades que envolvem escrita criativa, musicalização, dança, teatro, lançamentos de livros e três instalações permanentes no Teatro Gregório de Mattos. O encerramento terá um mini recital em homenagem à heroína Maria Felipa.
Reconhecimento e representatividade
Mais do que promover cultura, o festival também valoriza iniciativas transformadoras. O Troféu Julhinho será entregue a professores e instituições que atuam com educação descolonizadora. Já a Medalha Calu homenageia crianças negras que protagonizam o projeto e inspiram outras.
A curadoria desta edição reúne grandes nomes das artes negras baianas, como os atores Lázaro Ramos e Valdinéia Soriano, a diretora Cássia Valle, a atriz e produtora Lucila Laura, além das jovens atrizes Ayana Dantas e Pietra Gomes.
“O projeto tem um papel importantíssimo de transformação social, de reconhecimento, afirmação e identidade”, destaca Lucila Laura. “As gerações anteriores não tiveram acesso a esse conteúdo. Hoje, nossas pretinhas e pretinhos podem se compreender enquanto crianças negras. Isso é revolucionário.”
Política pública e cultura viva
O Julho das Pretinhas é um dos projetos contemplados pelo edital Gregórios – Ano IV, com apoio da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador e da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), por meio do Ministério da Cultura e do Governo Federal.
Em tempos de reconstrução cultural e combate ao racismo, o festival se firma como uma celebração da infância negra, mas também como um espaço de resistência, visibilidade e transformação.