Dez dias de cultura, afeto e transformação social. Salvador vive, até este domingo (27), a força do Circuito Mulheres Negras em Movimento, uma programação potente que marca o 25 de Julho — Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, Dia Municipal da Mulher Negra em Salvador e o Dia Nacional de Tereza de Benguela.
Mais do que uma celebração, o circuito é uma ação estratégica de valorização da mulher negra soteropolitana, com atividades culturais, formativas e econômicas espalhadas por bairros como Cajazeiras, Subúrbio, Bonfim, Ribeira, Novo Horizonte e Águas Claras. Oficinas, rodas de conversa, festivais, exibições de filmes, eventos gastronômicos e feiras de empreendedorismo compõem uma agenda pensada para ocupar territórios e ampliar o acesso.
“Salvador tem 83% da população negra. Falar da mulher negra é falar de quem sustenta essa cidade nas bases, muitas vezes em situação de vulnerabilidade. A gente quer transformar essa realidade com políticas públicas reais, com qualificação e afroempreendedorismo”, destaca a vice-prefeita e secretária de Cultura e Turismo, Ana Paula Matos.
Cultura descentralizada, impacto multiplicado
Um dos grandes diferenciais do circuito é a descentralização: em vez de concentrar tudo em um único ponto, os eventos estão espalhados por toda a cidade, alcançando comunidades que historicamente ficaram à margem dos grandes palcos. A culminância, no dia 27 de julho (domingo), será na Praça Maria Felipa, no Comércio — um espaço simbólico que homenageia uma das maiores heroínas negras do Brasil.
O encerramento trará aulões de dança, feiras, rodas de samba, encontro de tambores e um grande show comandado por Larissa Luz, que convida Luedji Luna, Majur, Mariene de Castro e Rachel Reis, com abertura do Balé Folclórico da Bahia e Banda Didá.
“Não é só festa. É política pública, é transformação”, afirma Larissa Luz, que também atua como curadora do show. “O movimento Maria Felipa celebra dois anos neste domingo. Vamos ocupar essa praça com ancestralidade, afeto e futuro.”
Destaques da programação
Além do encerramento, o circuito inclui:
- Inventivos Talks com Monique Evelle, Lisiane Lemos e Andreza Rocha (25/07, Café Teatro Nilda Spencer)
- Oficina de poesia para mulheres pretas surdas da periferia (24/07, Casa das Histórias)
- Homenagem ao centenário de Mãe Stella de Oxóssi, no Ilê Axé Opô Afonjá
- Festival Julho das Pretinhas, com teatro, contação de histórias e lançamentos de livros
- Festival Iyás, com espetáculos e ocupações artísticas no Espaço Cultural da Barroquinha
- Prêmio Mulheres Negras Contam Suas Histórias
- Pitch Capital das Pretas, com apoio do Fundo Agbara
Futuro estruturado: “Não é um evento, é uma política”
Ana Paula Matos reforça que o projeto nasceu com a proposta de continuidade. “A ideia é que todo último domingo de julho seja o dia da culminância do movimento. Que Salvador valorize a mulher negra não apenas em datas simbólicas, mas com ações estruturadas e contínuas.”
“Esse circuito é sobre dar visibilidade, mas também dar renda, dar vez, dar futuro às nossas mulheres negras. Porque não existe equidade sem autonomia.”
O Circuito Mulheres Negras em Movimento é uma realização da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), com apoio da sociedade civil, coletivos, artistas e movimentos negros. Ele integra a política cultural de Salvador e é impulsionado por parcerias com a Fundação Gregório de Mattos, a Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) e o Ministério da Cultura.