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Conclave: Entenda o rito milenar para a escolha do novo Papa

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A morte de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, no dia 21 de abril, desencadeou uma onda de reações globais, transcendendo fronteiras políticas e religiosas. Líderes mundiais e fiéis de diversas crenças convergiram em reconhecer a figura de Francisco como um pacificador e um agente de mudanças, unindo pessoas em torno de uma visão comum.

Papa Francisco. Foto: Yara Nardi / Reuters.

O Vaticano confirmou para o próximo sábado, 26, às 10h (horário de Roma), o funeral do pontífice, equivalente a 5h no horário de Brasília. O velório teve início nesta terça-feira, às 9h, na Basílica de São Pedro, onde o corpo permanece para as homenagens dos fiéis. Chefes de Estado como o Presidente Lula, o americano Donald Trump, o argentino Javier Milei e o ucraniano Volodymyr Zelensky confirmaram presença na cerimônia solene.

Paralelamente ao luto pela perda de uma figura central para a Igreja Católica e para a geopolítica mundial, o debate em torno de seu sucessor ganha destaque nos meios de comunicação. O termo “conclave” ascendeu ao centro das discussões, refletindo-se em um aumento de 283% nas buscas pelo filme homônimo de 2024, premiado no Oscar por Melhor Roteiro Adaptado.

“Conclave” (2024), filme de Edward Berger. Foto: Divulgação.

Embora a obra cinematográfica ofereça uma representação do processo eleitoral papal, é crucial ressaltar que ela serve apenas como uma vaga inspiração. O conclave real, um ritual com raízes históricas profundas, possui particularidades que o distinguem da ficção.

O que é o conclave?

O conclave é a assembleia de cardeais eleitores convocada para escolher o novo líder da Igreja Católica Apostólica Romana após a morte ou renúncia de um Papa. Reunidos no Vaticano, os membros do Colégio Cardinalício realizam votações secretas até que um nome obtenha a maioria qualificada necessária.

Contexto histórico 

O conclave, em sua essência, preserva um formato com quase oito séculos de história. A palavra surgiu em 1274, quando o Papa Gregório X, por meio da Constituição Apostólica Ubi periculum, estabeleceu as bases do conclave moderno. O objetivo primordial era coibir manobras eleitorais prolongadas, agilizando a escolha do novo pontífice e minimizando o risco de cismas e disputas acirradas.

A Constituição Ubi periculum marcou a primeira vez em que o termo “conclave” designou tanto o local de reunião dos cardeais quanto a própria assembleia eleitoral. A etimologia da palavra remete ao latim cum clave, significando “com chave”, aludindo ao isolamento dos cardeais durante o processo.

Historicamente, após a morte de um Papa, a Igreja Católica determinava um período para a realização do conclave. Inicialmente, não havendo eleito com dois terços dos votos, os dois candidatos mais votados passavam por uma disputa final, exigindo novamente a mesma maioria para a eleição. Ao longo do conclave, a comunicação com o mundo exterior era feita através da chaminé da Capela Sistina: fumaça preta indicava a ausência de um novo Papa, enquanto a fumaça branca anunciava sua eleição.

Atualmente, o conclave deve ter início entre 15 e 20 dias após a vacância da Sé Apostólica. Este intervalo, estabelecido em tempos medievais devido à lentidão das viagens até Roma, é mantido para permitir que os cardeais realizem reuniões preparatórias, conhecidas como “congregações gerais”, onde debatem o estado da Igreja. Este período antecedente é chamado de “novemdiales“, os nove dias de luto oficial após o falecimento do Papa.

A manhã do primeiro dia do conclave é marcada pela Missa Pro Eligendo Romano Pontifice, celebrada na Basílica de São Pedro com a presença de todos os cardeais. Em seguida, os cardeais eleitores dirigem-se em procissão solene à Capela Sistina, local onde as votações terão início.

O procedimento

Com a morte ou renúncia do Papa, a Sé Apostólica é declarada vacante. Nesse ínterim, a administração da Igreja recai sobre o Cardeal Decano ou Camerlengo, responsável por certificar o óbito do pontífice na presença de autoridades eclesiásticas. O Camerlengo também assume a gestão dos bens da Igreja e, no contexto do conclave, desempenha um papel crucial na organização do evento.

Os cardeais eleitores são conduzidos à Domus Sanctae Marthae, no Vaticano, onde permanecem em isolamento completo durante todo o conclave. É vedado qualquer contato com o mundo exterior, incluindo acesso a notícias e comunicações.

No primeiro dia do conclave, realiza-se uma única votação. Caso nenhum candidato alcance os dois terços dos votos necessários, as votações prosseguem no dia seguinte, com quatro escrutínios diários: dois pela manhã e dois à tarde. Este ciclo de votações se repete por três dias consecutivos. Se, ao final deste período, a eleição papal ainda não tiver se concretizado, ocorre um dia de pausa dedicado à oração e à meditação para os cardeais. Este ciclo de três dias de votação e um dia de oração pode se repetir por até sete vezes.

Persistindo o impasse após essas etapas, a normativa da Igreja Católica prevê uma fase final restrita aos dois cardeais mais votados na última votação. A eleição é então decidida quando um dos dois obtiver os dois terços dos votos.

A cada votação, a expectativa se concentra na chaminé da Capela Sistina. A queima das cédulas com aditivos químicos gera a fumaça preta, sinalizando que nenhum candidato alcançou a maioria requerida. A fumaça branca, produzida pela queima das cédulas sem aditivos, anuncia ao mundo a eleição do novo Papa.

Uma vez alcançado o consenso e eleito o novo pontífice, o Camerlengo dirige-se ao cardeal eleito e pergunta se ele aceita a eleição e o novo ofício. Havendo a aceitação, o conclave é formalmente encerrado.

O Colégio Cardinalício e os eleitores

O Colégio de Cardeais, corpo responsável pela eleição papal, é composto por cardeais com menos de 80 anos na data da vacância da Sé Apostólica. Atualmente, o número máximo de cardeais eleitores é de 120, limite estabelecido por Paulo VI em 1975. Estes devem se reunir para o conclave dentro de um prazo de até 20 dias após a morte ou renúncia do Papa.

O anúncio e os ritos subsequentes

A fumaça branca emanando da chaminé da Capela Sistina é o sinal de que a Igreja Católica tem um novo líder. Após o anúncio, um cardeal diácono dirige-se à sacada da Basílica de São Pedro para comunicar ao público o resultado do conclave, revelando o nome civil do eleito e o nome papal escolhido.

Fumaça branca anunciando a eleição do novo Papa, em 13 de março de 2013. Foto: Jeff J Mitchell / AFP / Getty Images.

Enquanto isso, o novo Papa é investido com as vestes pontifícias e se apresenta à multidão na sacada da Basílica para sua primeira bênção Urbi et Orbi (“à cidade de Roma e ao mundo”).

A prerrogativa de escolher o próprio nome papal recai sobre o cardeal eleito. Embora tenham liberdade para optar por qualquer nome, é comum que os novos Papas escolham nomes de apóstolos, combinações destes ou homenageiem figuras importantes da história do cristianismo.

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