Templo tombado como patrimônio nacional passa por obras emergenciais; jovem turista morreu no local em fevereiro
Seis meses após o desabamento do teto da Igreja de São Francisco de Assis, no Centro Histórico de Salvador, o local permanece interditado e passa por obras emergenciais de estabilização. O acidente, ocorrido em 5 de fevereiro de 2026, resultou na morte da turista Giulia Panchoni Righetto, de 26 anos, e deixou outras cinco pessoas feridas.
Conhecida como a “igreja de ouro” por seu interior ricamente decorado com folhas de ouro, a Igreja de São Francisco é um dos principais pontos turísticos da capital baiana. No momento do desabamento, Giulia visitava o local com o namorado e um casal de amigos. Ela estava sentada, observando o teto, quando parte da estrutura cedeu.
Desde então, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) trabalha na estabilização do forro, considerada a etapa mais urgente. Só após a conclusão dessa fase é que as obras de restauração do restante do complexo, que inclui também o Convento dos Freis Franciscanos, serão iniciadas.
Antes do acidente, já havia um projeto de restauração orçado em R$ 1,2 milhão. Com o desabamento, os trabalhos foram antecipados em caráter emergencial, o que deve elevar significativamente os custos da intervenção. O valor total da obra, no entanto, ainda não foi definido pelo Iphan.
Alerta ignorado
Dois dias antes do acidente, o frei Pedro Júnior Freitas da Silva, guardião e diretor da igreja, havia informado ao Iphan sobre uma “dilatação” visível no forro e solicitado uma vistoria. A visita técnica estava marcada para o dia 6 de fevereiro — um dia após o desabamento fatal. Segundo o presidente do Iphan, Leandro Grass, o pedido foi feito via protocolo regular, o que não caracteriza situação de emergência.
A Defesa Civil de Salvador também confirmou que havia registros de problemas estruturais no imóvel, mas, até então, não havia indícios concretos de risco iminente de desabamento, o que manteve a igreja aberta à visitação.
Estrutura já comprometida
Tombada como patrimônio material do Brasil e considerada uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo, a Igreja de São Francisco enfrentava sinais de deterioração visível há anos. Em 2023, uma vistoria do g1 já havia identificado pinturas desgastadas, fiações expostas, pilastras sem reboco e piso irregular, dificultando a acessibilidade no espaço.
Na mesma época, o teto de corredores do convento já estava escorado com ripas, e um dos pátios teve de ser parcialmente interditado após risco de queda de um pináculo — uma cúpula metálica de cerca de 1,5 tonelada, que precisou ser removida.
Apesar dessas condições, as visitas ao templo continuavam sendo realizadas normalmente até o desabamento de fevereiro.
Restauração deve durar anos
O Iphan informou que a elaboração dos projetos executivos de engenharia e restauração está em andamento. Segundo o órgão, o processo de restauração completo de um monumento com as características da Igreja de São Francisco pode levar de dois a três anos.
Enquanto isso, o templo permanece fechado ao público, sem previsão para reabertura. A tragédia reacendeu o debate sobre a manutenção preventiva dos bens tombados e a responsabilidade compartilhada entre instituições religiosas, órgãos públicos e sociedade civil na preservação do patrimônio histórico.
Teto da igreja de ouro desabou em Salvador — Foto: Defesa Civil de Salvador